A odontologia na Fundação CASA (ou Estamos melhores que a Suécia)
20/12/13 13:30Dia desses eu abri o site da Folha e encontrei a seguinte notícia: “Um homem fugiu do presídio onde estava preso, no sudoeste da Suécia, para tratar uma crise de dor de dente (…)”. (Clique aqui para ler na íntegra)
Achei curioso… e, claro, fiquei pensando: se na Suécia um cara precisa fugir do presídio para ter tratamento odontológico, imagina como não deve ser no Brasil?!
Eu e minha equipe fomos atrás de informações sobre a tal da Odontologia Carcerária – como o atendimento aos detentos é chamado no Brasil. E o que encontramos não foi muito animador. A área sofre das mesmas deficiências de todo o sistema penitenciário brasileiro: falta de infraestrutura adequada, falta de mão de obra especializada, excesso de demanda (superpopulação) etc.
Resolvemos, então, entrar em contato com alguém do meio. Pra entender direito a coisa toda. No pula-pula, chegamos à Dra. Ana Amélia Barbieri, dentista da Superintendência de Saúde da Fundação CASA (Centro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente) – o equivalente à antiga FEBEM.
Segundo a Dra. Ana, em todas as unidades da Fundação, os jovens têm acesso a tratamentos odontológicos… mais especificamente, à atenção básica – o que inclui restaurações, profilaxia simples, tratamentos de cárie e educação para saúde. Como se as unidades da instituição fossem pequenas UBSs do SUS. Todo mundo também têm acesso ao kit de higiene.
Quando o jovem é internado, ele passa por uma avaliação… um exame clínico. Se nenhuma intervenção for necessária ele recebe profilaxia, aplicação de flúor e aprende as técnicas de higienização. Caso contrário, ele passa a receber atendimentos regulares agendados (o mesmo acontece quando as auxiliares de enfermagem das unidades recebem queixas dos internos).
As consultas são realizadas nas próprias unidades, ou em ambulatórios construídos próximos a elas. Os consultórios são formados por cadeira odontológica, fotopolimerizador (utilizado nas restaurações), amalgamador capsular (para restauração/tratamento de cárie), autoclave (para esterilização), aparelho de profilaxia e ultrassom. Raios-X são exclusividade de algumas unidades de referência.
Caso haja necessidade de alguma especialidade (endodontia, ortodontia, tratamento periodontal de maior complexidade etc.), os jovens entram na fila de espera dos CEOs (Centro de Especialidades Odontológicas, mantidos pelos governos municipais).
Ao todo são 57 dentistas funcionários na instituição, cada um deles trabalhando 20 horas semanais e atendendo a uma demanda de até 180 adolescentes – “estamos sempre abaixo desse marco”. (Além deles, nas unidades em que a gestão é compartilhada com ONGs – como a Pastoral do Menor e a Pastoral Carcerária, por exemplo –, o tratamento é de responsabilidade dos parceiros). O número de consultórios e de dentistas depende da demanda de cada unidade.
A superintendência acompanha os atendimentos através das estatísticas de saúde, além de comprar materiais e equipamentos… e claro, gerenciar a sua manutenção.
Ainda segundo a Dra. Ana, a demanda é totalmente atendida e quase inexistem queixas sobre o atendimento odontológico. E se ela pudesse melhorar qualquer coisa da atual estrutura de atendimento, a resposta seria “aumentar educação em saúde”.
Ou seja, se o sueco lá de cima fosse um menor paulista, a história seria outra. Por isso, após a entrevista eu pensei em fazer meu tratamento odontológico na Fundação CASA.
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