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Abra a Boca!

por Fábio Bibancos

Perfil Fábio Bibancos é dentista e presidente da OSCIP Turma do Bem

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Não se apaixonem por si mesmos

Por Fábio Bibancos
24/07/13 13:30

Navegando pela internet, encontrei este texto. Ele é um trecho do discurso que o filósofo Slavoj Žižek fez aos manifestantes do movimento “Occupy Wall Street”, em 2011, traduzido por Rogério Bettoni.

Acho que ele tem tudo a ver com o estudo que estamos fazendo de nossa rede de voluntários. Entre eles existe muita gente que acabou se apaixonando por si mesmo… gente que fez uma, duas, três triagens, ganhou um prêmio e passou a achar que merecia destaque por isso… gente que perdeu o tom. Pois bem, o blog de hoje é pra vocês.

***

“Não se apaixonem por si mesmos, nem pelo momento agradável que estamos tendo aqui. Carnavais custam muito pouco – o verdadeiro teste de seu valor é o que permanece no dia seguinte, ou a maneira como nossa vida normal e cotidiana será modificada. Apaixone-se pelo trabalho duro e paciente – somos o início, não o fim. Nossa mensagem básica é: o tabu já foi rompido, não vivemos no melhor mundo possível, temos a permissão e a obrigação de pensar em alternativas. Há um longo caminho pela frente, e em pouco tempo teremos de enfrentar questões realmente difíceis – questões não sobre aquilo que não queremos, mas sobre aquilo que QUEREMOS. Qual organização social pode substituir o capitalismo vigente? De quais tipos de líderes nós precisamos? As alternativas do século XX obviamente não servem.

Então não culpe o povo e suas atitudes: o problema não é a corrupção ou a ganância, mas o sistema que nos incita a sermos corruptos. A solução não é o lema “Main Street, not Wall Street”, mas sim mudar o sistema em que a Main Street não funciona sem o Wall Street. Tenham cuidado não só com os inimigos, mas também com falsos amigos que fingem nos apoiar e já fazem de tudo para diluir nosso protesto. Da mesma maneira que compramos café sem cafeína, cerveja sem álcool e sorvete sem gordura, eles tentarão transformar isto aqui em um protesto moral inofensivo. Mas a razão de estarmos reunidos é o fato de já termos tido o bastante de um mundo onde reciclar latas de Coca-Cola, dar alguns dólares para a caridade ou comprar um cappuccino da Starbucks que tem 1% da renda revertida para problemas do Terceiro Mundo é o suficiente para nos fazer sentir bem. Depois de terceirizar o trabalho, depois de terceirizar a tortura, depois que as agências matrimoniais começaram a terceirizar até nossos encontros, é que percebemos que, há muito tempo, também permitimos que nossos engajamentos políticos sejam terceirizados – mas agora nós os queremos de volta.”

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Para não levar gato por lebre

Por Fábio Bibancos
23/07/13 13:30

Você já chegou na farmácia e o atendente te ofereceu um remédio diferente do que o médico prescreveu na receita, alegando que os dois eram iguais, só mudava o preço? Se sim, saiba que muito provavelmente ele foi pago para fazer isso.

Os laboratórios farmacêuticos possuem duas estratégias principais de divulgação de seus produtos. A primeira delas, que é a mais ética, diga-se de passagem, se baseia na visitação/relacionamento com os profissionais da saúde (com atenção quase exclusiva para os médicos). Desse modo, eles conseguem mostrar as qualidades dos medicamentos que produzem, fazendo com que estes profissionais passem a receitá-los a seus pacientes.

A segunda é bem diferente. Para economizar o dinheiro da visita aos médicos, há laboratórios que só trabalham com vendedores… os quais se relacionam apenas com as farmácias. Ai surge o “X” da questão: como fazer que um medicamento seja vendido se ele não é prescrito pelo médico? (Afinal, se ele não conhece um produto, não vai recomendá-lo a um paciente.)

A solução encontrada foi oferecer “incentivos” para os donos de farmácia (e balconistas de farmácia) empurrarem seus produtos para os consumidores finais. Ou seja: o médico te receita um remédio e o atendente te entrega um “similar”, dizendo que é mais barato. Em troca, ele leva “um por fora”. Um, que no final do mês se transforma em vários. Há pessoas que conseguem, mensalmente, R$ 5 mil de “bola”.

E como isso é possível?! Por não terem despesas de visitação, os laboratórios conseguem baixar o preço dos remédios, vendendo-os mais barato para os donos de farmácia… os quais conseguem uma liquidez maior na venda do produto… e repassam parte deste lucro para o funcionário que o vendeu.

Isso é conhecido como “bola”… e vamos entender…

Em primeiro lugar, a legislação proíbe a troca dos medicamentos prescritos em receituário. Entretanto, os órgãos competentes não conseguem fiscalizar com rigidez as mais de 70.000 farmácias que existem hoje no Brasil. Resultado: nem as receitas de remédios de venda controlada são exigidas. Um solo fértil para que esse tipo de fraude aconteça. E você acaba sendo vítima sem saber!

Depois, ficamos expostos a perigos. Não sabemos qual é qualidade do produto, tampouco a origem do que nos é empurrado (bem diferente do que foi recomendado pelo médico). E, pior ainda… há vezes em que os atendentes trocam o princípio ativo dos remédios. O que, no melhor dos mundos, não vai curar a doença… mas pode piorá-la (ou gerar outras).

Portanto, é bom ficar de olho! Afinal, levar gato por lebre aqui é mais perigoso do que parece…

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Qual é o papel da escola pública e das instituições afinal?

Por Fábio Bibancos
22/07/13 13:30

Existem vários fatores que impedem que mais jovens cheguem à cadeira dos dentistas do bem. Entretanto, não há nada pior do que o responsável por uma escola/instituição impedir que o coordenador faça a triagem. Porque ai há crianças precisando de ajuda e há gente disposta a ajudar… mas um terceiro interrompe a conexão entre as duas pontas. Resultado: centenas de jovens continuam sofrendo por causa dos dentes.

Aconteceu um caso desses na semana passada. Pedimos para nossa coordenadora de Itaú de Minas/MG fazer uma triagem em S. Sebastião do Paraíso/MG. Aconteceria na E.E. Paula Frassinetti. Até que a vice-diretora resolveu consultar a inspetora escolar… que, por sua vez, repassou para a Superintendente de São Sebastião do Paraíso… que ligou em BH para obter maiores informações da Secretaria de Educação de Minas Gerais. A qual não permitiu que fizéssemos a triagem, alegando que “a escola não pode ter nenhuma responsabilidade ou vínculo, podendo responder em casos de alergia, entre outros”. Pra terminar, eles disseram “o projeto é muito bem quisto e benéfico para a comunidade, mas não pode ter o intermédio da escola”. Oi?!

Isso gerou uma revolta tão grande aqui, que nossa assistente social, Juliana Santos, fez um desabafo. O qual, divido com vocês:

“É estranho pensar que existem instituições e escolas públicas, que deveriam assegurar que as necessidade básicas dos adolescentes fossem garantidas, tenham negado por diversas vezes o direito à saúde, o direito de sorrir, o direito de não sentir dor, o direito de ter uma boa colocação no mercado de trabalho, o direito à dignidade.

Todos os dias, vou em busca de instituições e escolas públicas que recebam o Projeto Dentista do Bem. E cada vez mais, tenho a certeza que estas instituições não sabem qual é o seu papel na sociedade. Afinal se elas não servem para impactar a vida desses jovens, para que servem?

Tenho que ouvir por diversas vezes que os problemas bucais dos adolescentes são responsabilidade da família, e que as instituições não têm porque receber o projeto. Fico pensando, se essas pessoas entendessem o seu papel, teriam pelo menos que saber que está garantido no Estatuto da Criança e Adolescente, em seu Artigo 4º, que “é dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta PRIORIDADE, a efetivação dos direitos referentes à vida, à SAÚDE, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.”

Fico louca em saber que são estas escolas e instituições as responsáveis pela formação desses adolescentes. Muitos desses adolescentes não têm nada e o pouco que podem ter lhe é negado por puro comodismo, por PREGUIÇA, por falta de preparo de instituições e escolas públicas que aprenderam a não fazer nada, com a desculpa de não terem nada…

Só falo uma coisa para você, que faz parte dessa pequena parcela de instituições e escolas públicas, que se esforçam para serem inúteis: a falta de verba e estrutura não justifica o fato de não cumprirem o seu papel para com a sociedade. Nós, do projeto Dentista do Bem, começamos com um sonho e hoje contamos com mais de 15 mil anjos que abrem espaço nas suas agendas para devolverem sorrisos de quem não pode pagar por um tratamento. E o seu pagamento são apenas sonhos que são concretizados por esses adolescentes. Então parem de inventar desculpas para não fazerem e simplesmente façam.”

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Uma questão de cidadania

Por Fábio Bibancos
19/07/13 13:30

Ao longo do mês eu compartilhei com vocês alguns dos milhares de pedidos de tratamento que recebemos todos os dias na Turma do Bem. Pedidos que vêm das mais diversas regiões do país (até de outros países)… gente de todas as idades… homens e mulheres… Muitas histórias que se transformaram por causa da falta de acesso a tratamento odontológico. Uma triste realidade que afeta milhões de pessoas Brasil afora.

E aí? Problema dos pobres, que não conseguem pagar? Problema de quem nunca escovou os dentes e agora tá com a boca estragada? Problema da ONG, que não consegue atender todo mundo? Problema do governo? O problema é de quem?

O problema é de todos nós. Porque a saúde é direito básico de todo cidadão. E, por mais que nos esqueçamos, a falta de acesso a Odontologia é um grave problema de saúde pública! E cabe a nós, cidadãos, lutarmos para que isso mude… por uma questão de cidadania!

E eu tenho certeza de que a mudança já começou. O engajamento de 15 mil dentistas na nossa causa é prova disso.

Eu sei que isso ainda é pouco… não resolve o problema. Os mais de 39 mil jovens e 400 apolônias que atendemos são apenas uma parcela dos milhões de brasileiros que sofrem com problemas odontológicos. Além disso, o projeto Dentista do Bem é restrito a jovens com idades entre 11 e 17 anos, que estudam em escolas públicas… e o Apolônias do Bem é focado em mulheres que frequentam instituições de auxilio a vítimas de violência doméstica. Um universo muito restrito!

Mas o impacto de nosso trabalho é gigantesco. Gostaria de compartilhar com vocês um email que recebi há poucos dias.

“Obrigado à turma do bem, meu filho já começou a fazer o tratamento, e veio na hora certa, obrigado a todas essas pessoas maravilhosas que estudaram durante tantos anos para ao termino do curso, lembrar de fazer o bem sem olhar a quem. Parabéns a toda essa turma maravilhosa.

G.N.”

 

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Simples e genial

Por Fábio Bibancos
18/07/13 13:29


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Brazil (com Z)

Por Fábio Bibancos
17/07/13 13:30

A animação abaixo se chama “Film Brazil” e foi produzida pela Prodigo Films para apresentar o Brasil para a indústria audiovisual internacional… ou seja, convencer os estrangeiros a filmarem por aqui. Tanto que o material foi amplamente divulgado no Festival de Cannes.


Este é o Brasil que estamos vendendo para o mundo. O que você achou dele?!

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Mais um não

Por Fábio Bibancos
16/07/13 13:20

“Boa tarde,

Amigos do bem, estou precisando de ajuda. Tenho 35 anos e preciso fazer alguns implantes. Não estou na escala de situação crítica, porém sou trabalhadora e assalariada. E como vocês sabem, esse tratamento sai muitíssimo caro. Já fiz três orçamentos e ficaram na média de R$ 11.000,00. Será que é possível algum de vocês me ajudarem e cobrarem um preço que eu consiga pagar. Porque estou próxima de tirar o aparelho dentário e preciso resolver isso. Mas não tenho condições de entrar nessa dívida, pois não terei como pagar. E já está afetando a minha autoestima. Aguardo ansiosa uma resposta positiva, vi o trabalho que foi realizado na telespectadora do Caldeirão do Hulk.

Desde já agradeço.

Sem mais,

A.”

Infelizmente tive de dizer mais um não. A moça está fora de nossas faixas de atendimento – jovens entre 11 e 18 anos e mulheres que vivenciaram situações de violência doméstica e que frequentam centros de apoio.

Entretanto, esse caso me chamou bastante a atenção. Ele é um retrato do momento pelo qual o Brasil vem passando. Vivemos anos de boom econômico. E junto a isso, assistimos a uma ascensão sem precedentes da classe C. O que, óbvio, deu poder de consumo a milhões de brasileiros. Entretanto, mesmo assim, a Odontologia continuou sendo um artigo de luxo… “consumido” pelos mesmos privilegiados de sempre.

Quando ela diz que não está “na escala de situação crítica”, fica evidenciado que as mazelas sociais brasileiras não podem ser resolvidas simplesmente com a popularização das televisões de LCD, dos smartphones ou do acesso a carro zero. O problema é muito mais profundo.

De que adianta tudo isso se a população segue privada de seus direitos mais básicos?! De que serve um celular ultratecnológico se Educação e Saúde de qualidade ainda são inacessíveis a maior parcela da população?! De que adianta uma economia aquecida se centenas de milhões ainda vivem com dor ou com vergonha do próprio sorriso?

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CIORJ 2013

Por Fábio Bibancos
15/07/13 15:43

Depois de 02 anos, a Turma do Bem voltou à capital fluminense para participar, mais uma vez, do CIORJ – Congresso Internacional de Odontologia do Rio de Janeiro. O evento aconteceu entre 10 e 13 julho, no Rio Centro.

Estávamos presentes em 03 estandes diferentes: Amil Dental, Oral-B e Dental Cremer, três dos mantenedores da TdB. Ao todo, cadastramos 232 novos dentistas do bem, os quais juntos serão responsáveis pelo atendimento de mais 406 beneficiários do projeto, em 46 cidades diferentes.

Além disso, conseguimos 62 novos coordenadores, sendo que destes, 24 participarão da capacitação que acontecerá no dia 27 de julho (para saber mais, clique aqui). O que pode aumentar ainda mais os resultados do congresso.

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Para zerar o placar

Por Fábio Bibancos
12/07/13 12:36

2013 está sendo um ano especial para a Turma do Bem. Nunca tivemos um crescimento tão expressivo em tão pouco tempo. Para se ter uma ideia, no nosso planejamento havíamos previsto chegar nos 40 mil atendimentos até o final do ano. Já estamos com mais de 39 mil.

Entretanto este número poderia ser ainda maior. Só no Brasil, em 152 cidades diferentes nós possuímos dentistas dispostos a anteder beneficiários do projeto. Isso significa que 3.474 jovens poderiam estar em atendimento. Mas não estão. Por quê?! Porque nessas cidades nós não temos coordenador regional. E sem eles, não fazemos triagens. O que faz com que milhares de jovens estejam com dor nesse momento.

Para melhorar um pouco esse quadro, no próximo dia 27 de julho, sábado, nós vamos promover mais uma (a última do ano!!) minicapacitação de novos coordenadores do projeto Dentista do Bem. Gente disposta a sair de casa, arregaçar a manga e transformar a realidade desses meninos e meninas. Gente com consciência social, que compartilha conosco a aflição de colocar cada vez mais beneficiários na cadeira do dentista. Gente que eleva a Odontologia à enésima potência, porque entende que seu trabalho vai muito além de uma simples restauração… e luta para garantir que todo mundo tenha o direito de ir ao dentista.

Aqui cabe um parêntese. Falando assim, até parece complicado. Mas o trabalho exige muito menos tempo e dedicação do que se possa imaginar. Um bom coordenador precisa de apenas 48 horas por ano para garantir que muitos jovens sejam atendidos. Isso mesmo: 02 dias por ano… no MÁXIMO!

Voltando à capacitação. Até agora nós já temos confirmados 24 participantes de 16 cidades de 10 estados diferentes. Mais isso ainda é pouco. Se você é dentista e topa o desafio de coordenar seu município, ou se você conhece alguém com perfil para fazê-lo, entre em contato conosco: 11 5084-7276 ou pelo email flavia@tdb.org.br.

Traremos todo mundo para São Paulo. Ao longo do dia apresentaremos o trabalho do coordenador regional, para que todos consigam desempenhá-lo da melhor maneira possível. Claro… sempre surpreendendo!

Veeeeeem ajudar a genteeee…

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Choque de Realidade

Por Fábio Bibancos
11/07/13 15:28

A gente, quando vem pro Rio de Janeiro, se acostuma com o lado bom da cidade. Eu mesmo, dificilmente fujo do circuito Barra/Zona Sul.

Ai, quando pensamos nas favelas, o que vem à nossa cabeça são as tais UPPs – Unidade de Polícia Pacificadora… o que dá aquela sensação de que a criminalidade se escafedeu de uma hora pra outra. Tem até morro que virou ponto turístico do Rio de Janeiro… Tipo: macumba pra turista!

Mas, de verdade, as coisas não são bem assim. O buraco é bem mais embaixo. E o paraíso não é tão bom quanto parece (nos cartões postais, claro!).

Ontem de manhã nós realizamos, aqui no Rio, uma triagem do Apolônias do Bem. Precisávamos selecionar novas beneficiárias para o projeto… mulheres que vivenciaram situações de violência doméstica. Após uma pesquisa na internet, chegamos ao Centro de Referência de Mulheres da Maré – Carminha Rosa, localizado na Vila do João, Complexo da Maré. Uma das muitas comunidades que ainda não foram pacificadas.

Sério… choque de realidade!

Vou compartilhar com vocês aqui o depoimento da Dra. Marina Eid, coordenadora do projeto:

“Quando eu agendei a triagem, eu não tinha ideia de como era a Vila do João. Na verdade, nunca tinha ouvido falar do lugar. Conhecia a Favela da Maré da música do Paralamas. E só. Por isso, pra mim, essa seria uma triagem como tantas outras que já tinha feito para o projeto. Ia encontrar comunidades pobres. Histórias fortes. Nada de diferente.

Quando chamei a Dra. Hellen Mary, coordenadora voluntária do projeto Dentista do Bem, para me ajudar, eu percebi que não era bem assim. Ela ficou surpresa com minha calma. ‘Você ia lá sozinha?! Você é louca?!’

Ontem, entretanto, o choque foi maior. Logo cedo ela chegou para me buscar na Gávea com um motorista. E foi o caminho inteiro contando como deveríamos nos comportar. ‘Não olha muito pro lado… não tira foto… não fala no celular…’

Quando entramos na linha amarela, pra pegar a saída pra Vila do João, o motorista pediu que abaixássemos os quatro vidros do carro e tirar o cinto. E reforçou: ‘não olha pro lado, finge que você é local’.

Na primeira esquina que paramos para pedir informação já tinha um cara com um rádio e um fuzil pendurado no ombro. Gelei.

O motorista perguntou bem alto onde ficava o posto de saúde do morro… claro, pra cara escutar aonde a gente ia e não ter problema!

A partir daí a coisa foi ficando mais pesada. Toda esquina em que passávamos tinha alguém com armamento pesado, fazendo a vigilância. E conforme fomos entrando, as ruas foram afinando… virando vielas, becos.

Numa dessas ruelas eu vi uma criança correndo… devia ter uns 09, 10 anos e estava com uma pistola amarrada na cintura. O negócio era quase do tamanho dele.

Quando chegamos ao posto de saúde, onde fizemos a triagem, outro choque. O local ficava do lado de uma creche. E na esquina de frente para os dois lugares tinha um cara armado com um fuzil, um rádio pendurado na roupa, fazendo guarda de uma mesa, tipo essas de camelô, na qual um menino de uns 17 anos manipulava drogas… Isso era, tipo, 09h da manhã. E a mesa estava tomada de pacotinhos de pó branco.

Eu nunca tinha vivido nada igual em toda a minha vida. E pra acabar com tudo, as histórias das mulheres daqui são muito mais pesadas que as histórias de São Paulo. Foi um choque de realidade gigante.”

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