Os melhores blogs de 2013: Choque de Realidade
13/01/14 13:30A gente, quando vem pro Rio de Janeiro, se acostuma com o lado bom da cidade. Eu mesmo, dificilmente fujo do circuito Barra/Zona Sul.
Ai, quando pensamos nas favelas, o que vem à nossa cabeça são as tais UPPs – Unidade de Polícia Pacificadora… o que dá aquela sensação de que a criminalidade se escafedeu de uma hora pra outra. Tem até morro que virou ponto turístico do Rio de Janeiro… Tipo: macumba pra turista!
Mas, de verdade, as coisas não são bem assim. O buraco é bem mais embaixo. E o paraíso não é tão bom quanto parece (nos cartões postais, claro!).
Ontem de manhã nós realizamos, aqui no Rio, uma triagem do Apolônias do Bem. Precisávamos selecionar novas beneficiárias para o projeto… mulheres que vivenciaram situações de violência doméstica. Após uma pesquisa na internet, chegamos ao Centro de Referência de Mulheres da Maré – Carminha Rosa, localizado na Vila do João, Complexo da Maré. Uma das muitas comunidades que ainda não foram pacificadas.
Sério… choque de realidade!
Vou compartilhar com vocês aqui o depoimento da Dra. Marina Eid, coordenadora do projeto:
“Quando eu agendei a triagem, eu não tinha ideia de como era a Vila do João. Na verdade, nunca tinha ouvido falar do lugar. Conhecia a Favela da Maré da música do Paralamas. E só. Por isso, pra mim, essa seria uma triagem como tantas outras que já tinha feito para o projeto. Ia encontrar comunidades pobres. Histórias fortes. Nada de diferente.
Quando chamei a Dra. Hellen Mary, coordenadora voluntária do projeto Dentista do Bem, para me ajudar, eu percebi que não era bem assim. Ela ficou surpresa com minha calma. ‘Você ia lá sozinha?! Você é louca?!’
Ontem, entretanto, o choque foi maior. Logo cedo ela chegou para me buscar na Gávea com um motorista. E foi o caminho inteiro contando como deveríamos nos comportar. ‘Não olha muito pro lado… não tira foto… não fala no celular…’
Quando entramos na linha amarela, pra pegar a saída pra Vila do João, o motorista pediu que abaixássemos os quatro vidros do carro e tirar o cinto. E reforçou: ‘não olha pro lado, finge que você é local’.
Na primeira esquina que paramos para pedir informação já tinha um cara com um rádio e um fuzil pendurado no ombro. Gelei.
O motorista perguntou bem alto onde ficava o posto de saúde do morro… claro, pra cara escutar aonde a gente ia e não ter problema!
A partir daí a coisa foi ficando mais pesada. Toda esquina em que passávamos tinha alguém com armamento pesado, fazendo a vigilância. E conforme fomos entrando, as ruas foram afinando… virando vielas, becos.
Numa dessas ruelas eu vi uma criança correndo… devia ter uns 09, 10 anos e estava com uma pistola amarrada na cintura. O negócio era quase do tamanho dele.
Quando chegamos ao posto de saúde, onde fizemos a triagem, outro choque. O local ficava do lado de uma creche. E na esquina de frente para os dois lugares tinha um cara armado com um fuzil, um rádio pendurado na roupa, fazendo guarda de uma mesa, tipo essas de camelô, na qual um menino de uns 17 anos manipulava drogas… Isso era, tipo, 09h da manhã. E a mesa estava tomada de pacotinhos de pó branco.
Eu nunca tinha vivido nada igual em toda a minha vida. E pra acabar com tudo, as histórias das mulheres daqui são muito mais pesadas que as histórias de São Paulo. Foi um choque de realidade gigante.”
Este post foi originalmente publicado 11/07/2013.
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Há luz no fim do túnel?
Triste
Pois acho que não
Queria achar o contrário
Uma realidade cruel que precisamos lidar.
Essa é a realidade. Infelizmente é muito triste!!
Até quando a sociedade vai ignorar essa realidade?
Horrível passar por isso, situação pavorosa. Como o Manoel disse ” Triste mesmo é a mídia esconder a realidade”.
Realmente. Outra realidade…
Triste realidade!
Realmente você ouvir umas coisas dessas é muito chocante,realmente muito triste …
Assustador! Crianças sem nenhuma perspectiva de futuro…triste!
Triste realidade que temos que engolir!!!
Triste presenciar situações como essa. Triste mesmo é a mídia esconder a realidade…