Os melhores blogs de 2013: Eu estava lá
10/01/14 13:30Eu estava lá. Dia 17 de junho de 2013… um dia que eu jamais esquecerei!
Acordei e liguei pra minha amiga Regina, que mora a algumas quadras do Largo da Batata. Perguntei meio sem graça se ela iria à passeata. Ela disse: claroooo!! Já mais confortável com a empolgação dela, perguntei se poderíamos nos reunir na frente da casa dela, pois precisávamos de um ponto de encontro. Ela disse: Claroooo, venham cedo que tomamos um café e vamos juntos. Pensei: será que ela pensa que são 4 ou 5… não falei nada!
Cheguei na clínica e fui ver a agenda. Pedi para reconfirmar os pacientes do dia… Tiro certo, ninguém viria mais. Alguns iam para o protesto, outros estavam com medo de sair… outros, ainda, estavam dispensando seus funcionários, pois eles talvez não conseguissem o transporte mais tarde.
Fiz o mesmo e deixei aberto para nosso corpo clínico… quem quisesse ir ao movimento, tava liberado.
Terminei meus afazeres às 14 e corri pra pegar meu filho na escola. Um trânsito monstro e, junto com meus dois amigos de carona, chegamos à casa da Regina. Subimos pro apartamento, para o tal cafezinho.
Aquilo que eu nem a Regina imaginávamos começou a tomar volume. Todo mundo que a gente chamou foi. O povo da clínica… o povo da ONG… os amigos dos nossos filhos. Não cabia mais ninguém na casa dela.
Atônita, a Regina tentava servir café e dar uma lasquinha de bolo pra cada um. Mas éramos muitos… Alguns pintavam cartazes, outros amarravam tecidos no rosto. Distribuição de saquinhos de vinagre. Tinha gente com medo… tinha gente brava… tinha gente muuuuuito humorada fazendo piadas… Alguns pediam banheiro, outros pediam pra deixar a bolsa, outros pediam uma blusa… Regina tentava atender a todo mundo. Vimos que aquele sistema de atender a todos estava entrando em colapso. Então uma amiga gritou: GENTE CHEGA, NÃO DÁ, VAMOS DESCER PRA RUA!
Em grupos de seis ou sete, descemos o prédio e ficamos na porta. Aquele monte de gente de branco. Uns tinham comido o bolo, outros não… mas ninguém tava nem aí. Fomos rindo e atentos até o Largo da Batata… ou Potatoes Large, como dizia um amigo que tentava dar uma melhorada no nome do ponto de encontro…
Chegamos e vimos a massa… era enorme, lindo e assustador. Eu peguei meu filho no braço e disse: temos que ficar perto de um lugar que tenha zona de fuga caso tenhamos que fugir. Ele bufou… pensando, que saco vir com meu pai!
Encontrei amigos, vi coisas super criativas… um grupo de jovens vestidos de caipira dançavam no arraial e na placa dizia: formação de quadrilha… Uma transformista vestida de vinagre e muita, muita gente de branco. A galera pedia não à violência o tempo todo e cada vez que uma bandeira oportunista do PT era levantada, todos, muito bravos, gritavam: SEM PARTIDO… SEM PARTIDO… SEM PARTIDO!!! As bandeiras sumiam rapidamente.
Caminhamos quase 10 km e no meio da Faria Lima passamos por bancos , Shopping Iguatemi, grandes empresas… todos símbolos do capitalismo selvagem. Nada, ninguém fez nada.
Andar no meio da Faria Lima foi estranho… parecia outro mundo. Olhar pra aquilo que vejo sempre de carro, com o vidro fechado… tomado de gente!! Surreal.
Num determinado momento, passamos por um daqueles colossais edifícios de vidro espelhado. Daí nos vimos… todos nós, os arruaceiros, estávamos nos vendo no espelho… ERA GIGANTE. Lá no meio não dava pra ver, só pra sentir… Mas no espelho do prédio vimos o tamanhoooooo… Chorei, é claro. E quando olhei pra minha galera, tava todo mundo aplaudindo com lágrimas nos olhos!
Voltei pra casa com meu filho… ele empolgadíssimo… eu reflexivo e quebrado (estou no Miosan), tentando descobrir o que será que vai dar: como estarão pensando os políticos? O que estarão pensando os marqueteiros dos políticos?! Vão abaixar a passagem do ônibus?! A Dilma deve estar atônita, né? O Alckimin deve estar apavorado!!
Daí tracei um paralelo. Em vez de eles fazerem como a Regina, tentando dar um pedacinho do bolo pra cada um, por que eles não gritam?! “CHEGA, NÃO DÁ MAIS! VAMO PRA RUA… VOU ME VER NO ESPELHO JUNTO COM ELES… VOU FAZER UM SISTEMA POLÍTICO DIFERENTE, QUE REPRESENTE TODO MUNDO! NÃO VAI MAIS TER BOLO… NEM PIZZA… VAI TER UMA GRANDE FESTA! JUSTA, HONESTA E PRA TODO MUNDO!”
PS: Dizem que em São Paulo tinham 65.000 pessoas. Eu, pelos meus cálculos, acho impossível. Eu já fui no Morumbi lotado… E não tinha tanta gente quanto ontem!
Este post foi originalmente publicado 18/06/2013.
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