Um novo IHC
03/04/13 13:30Imagine a cena: um jovem chega ao consultório de um dentista do bem com fones de ouvidos, celular no bolso, roupas bonitas… enfim, um típico exemplar de classe média – o que o caracterizaria como alguém capaz de arcar com o custo do tratamento, não precisando ser atendido gratuitamente.
O primeiro reflexo do voluntário é entrar em contato conosco e reclamar do paciente: “Pô, vocês me mandaram alguém que não precisava de tratamento gratuito!”Mas, as aparências enganam.
Há 10 anos essas demandas já existiam. Mas eram tão poucas e tão esparsas que a gente entendia o motivo: o paciente acha que ir ao dentista é algo muito importante e coloca a sua melhor roupa para não fazer feio… e o dentista, com aquele preconceito que nós da classe média não conseguimos disfarçar, esperando um jovem maltrapilho, fica decepcionado.
Mas, até aí… paciência!!!
Entretanto, nos últimos tempo essa história tem mudado. As reclamações que eram esparsas, tornaram-se mais frequentes… Aí surgiras as dúvidas: Será que estamos triando corretamente? Será que estamos deixando passar alguma coisa na avaliação socioeconômica?
Voltamos a atenção para uma nova situação – a nova classe C, que antes não possuía subsídio algum para adquirir determinados bens e, portanto, tornava-se visível sua precariedade, hoje mudou de cara. A gente não sabe mais quem pode, ou quem não pode pagar um tratamento ondontológico pelo que ela tem e pela aparência que tem. Sim… poder pagar um dentista diferencia, e muito as classes no Brasil!!!
Para respondermos essas perguntas, entramos em contato com o IBGE. Mas o problema é geral, todos os organismos buscam ao mesmo tempo um mecanismo mais preciso de seleção. O atual têm funcionado bem no Norte e Nordeste do País… por aqui a história é outra.
Com essa ascensão das classes C e D ficou muito difícil precisar quem realmente precisa ser assistido por projetos sociais. Principalmente nos grandes centros urbanos do centro-sul do Brasil. Hoje a classe média está mais perto de todos…
Por isso, após 10 anos, o questionário socioeconômico do IHC precisava ser aprimorado para as novas demandas. Pois, além de examinar se o jovem precisa de tratamento, temos de entender se ele poderia bancar o seu custo… encontrar gente que sofre do bolso e dos dentes ao mesmo tempo (o que, aliás, ainda é regra e não exceção). São eles que nós tratamos com prioridade. E não dá mais para justificar se o jovem tem ou não condições de pagar um tratamento odontológico por ele ter um aparelho celular, ou não… ou menos, um aspirador de pó… uma geladeira duplex. Essas coisas qualquer um tem hoje… afinal, os padrões são outros.
Criamos um piloto de um novo tipo de avaliação, um pouco mais complexa… Alteramos as perguntas do questionário socioeconômico clássico, atualizando-o para o consumo dos dias de hoje! Além disso, aplicamos questionários diferentes em pais e filhos – o que, na comparação, nos dá um panorama mais fiel da situação do jovem.
O piloto foi utilizado pela primeira vez na Megatriagem do dia 18 de março. E, vou dizer: acho que estamos no caminho certo! Claro que, como todo piloto, algo nele ainda mudará… mas, uma coisa é fato: a partir de Outubro todas as cidades já poderão utilizar o modelo novo do IHC. E um fone nos ouvidos, conectado a um smartphone, talvez não signifique que alguém possa, ou não, pagar por um tratamento odontológico.
Caros,
O Índice de Hierarquia de Complexidade (IHC), tal como os critérios utilizados na seleção dos beneficiários do projeto Dentista do Bem, são frutos de extensa pesquisa acadêmica de especialistas em saúde coletiva. Entre eles, o Prof. Dr. Carlos Alfredo Loureiro e a Prof. Dra. Vânia Eloísa de Araújo, autoridades reconhecidas nacionalmente pela excelência de seu trabalho acadêmico.
A sua efetividade foi comprovada à exaustão antes mesmo do índice ser utilizado pela Turma do Bem. E sua qualidade é provada por sua utilização por universidades de odontologias de todo o país e pelo reconhecimento internacional de nossos projetos por organismos do calibre da ONU.
Para quem não conhece, o IHC é baseado numa avaliação odontológica cientificamente comprovada e num questionário socioeconômico validado pela ABIPEME (Associação Brasileira dos Institutos de Pesquisa de Mercado) – o qual vem sendo alvo de questionamentos de todos os organismos que trabalham com pesquisa de mercado devido à dificuldade de definição da vulnerabilidade social em tempos de ascensão das classes C e D.
Por isso, com consultoria de pesquisadores do IBOPE/IBGE, estamos em busca de aprimorar nosso questionário. Não para focalizar os pobres. Mas para precisar com exatidão quem realmente necessita de nossa intervenção.
É importante deixar claro que, com nosso projeto, não estamos em busca de conflito com o governo ou qualquer outro órgão público. Muito pelo contrário. Queremos cooperar com eles, andar paralelamente. E o caminho que encontramos para fazê-lo foi tornar pública a falta de acesso a tratamento odontológico que afeta a maior parcela da população brasileira. Identificando o problema e apresentando possíveis soluções (como, por exemplo, a distribuição gratuita do kit de higiene bucal). Entendemos que esse seja nosso dever enquanto cidadãos.
Sabemos, claro, que atendemos uma parcela ínfima da população. Entretanto, a nossa intervenção foi fundamental para 34 mil jovens que tiveram seus sorrisos e autoestima resgatados pelos dentistas do bem. O que prova a importância de nosso trabalho. E a urgência de sua manutenção.
Com isso, não estamos sendo populistas. Até porque não possuímos nenhuma aspiração política. O que queremos é, sim, tornar popular um problema que pode ser resolvido através da cooperação e garantir a democratização de um serviço de saúde essencial à qualidade de vida de um ser humano. O que, quando acontecer, será bom para todo mundo: para o Governo, para a população e para a própria TdB, que não precisará mais existir!
Do mais, quem quiser acompanhar de perto o nosso trabalho, as portas da TdB estão sempre abertas. Como também estamos abertos a sugestões que possam nos fazer atingir nosso objetivo: viver em um mundo onde TODOS possam sorrir sem vergonha de seus dentes.
Equipe Turma do Bem
“Evolução”……Estamos no caminho certo.
Mas sempre digo que quem “faz voluntariado por que faz”, nem se preocupa com esses “detalhes”,apenas FAZ!!!! Eu faço a minha parte, claro que gostaria de fazer para quem realmente necessita, mas caso contrário, já está FEITO!!!!!
Já havia comentado sobre isso e tenho certeza que será muito bom! Que venha o novo IHC!
Muda a vida! Nos tambem mudamos com ela! Viva TdB
Que boa notícia! Tenho comentários dos dentistas do bem que muitos pacientes poderiam pagar o tratamento.
Com certeza temos que mudar, hoje mesmo recebi uma ligação de dentista informando dúvidas sobre o sócio-econômico. Com as mudanças da sociedade temos que mudar nossa postura também.
Passei por isso me apresentado aos dentistas já cadastrados, um deles me sugeriu de ter uma assistente social envolvida, mas o que eu sinto falta na ficha do IHC e de não ter a renda familiar.
Isso era uma necessidade gritante. Passei pelo problema de pacientes chegarem de carro, roupas de marcas… fora o de sempre… “esse paciente tem um celular melhor que o meu!”. Ouvi isso muitas vezes. Fico muito feliz com essa notícia. Parabéns pela iniciativa.
O problema é que o próprio governo e os intitutos de pesquisa não tem os mesmos índices comparativos de medição de pobreza…..
Neste seu programa focalizado que só vê dentes, e os dentes de uma parcela ínfima da população, além de não ter articulação alguma com as demais áreas da saúde, realmente é muito difícil identificar necessidades de saúde de forma mais abrangente. Faço idéia da abobrinha pseudo-científica que devem ser os critérios de triagem. Resumo da ópera: agora está mais difícil de fazer projetinho populista focalizando pobre, porque pobre está até usando tênis e fone de ouvido! Ó, dilema!
AH, POR FAVOR! Tens muito a aprender com nosso sistema público de saúde, que tanto criticas!
Caro Bruno Gaspar, se o programa de saúde é tao eficiente não entendo o porque de tanto aspereza com um projeto que atende mais de 15 mil adolescentes sem custo algum ao governo, e sim por profissionais muito bem qualificados. Esses profissionais entendem que há uma grande parcela da populacão que NECESSITA DE TRATAMENTO, e não encontra vaga… Se abcesso, pulpite, periodontite, Angina de Ludwig entre muitos outros forem considerados critérios do tipo ”abobrinha pseudo-científica”, nem o seu sistema público de saúde teria necessidade de existir. Não critique um grupo de pessoas que se dedicam a cuidar de daqueles que nada tem. Mude seu programa, assim não precisaremos mais existir. Tenha uma boa noite.
Muito bom, porêm temos que ter em mente que vez ou outra mesmo com essa mudança podos receber uma crisnça/adolescente que nos pareça nao estar enquadrada nk Programa. Nessa hora bom senso para nao cometermos erros, pois muitas vezes ele pode ter um celular ou uma roupa que lhe foi presenteado por um tio, por exemplo, porém esse mesmo tio nao pagaria seu tratamento odontológico, portanto o mesmo estaria SIM dentro do projeto
O caminho é este…ponto pra TDB.
Mudam-se os tempos…mudam-se as realidades!
Realmente , eu tenho essa dificuldade nas triagens… quando o jovem diz que tem carro até pergunto : qual carro??? Pq tb não é referência!!!
Nossa, critério excelente para avaliar necessidades de saúde… parabéns!
Realmente é preciso mudar a visão das novas classes… as coisas estão mudando, e os métodos de pesquisas não podem estacionar no convencional.