Uma dentista no serviço público
25/04/12 13:15Recebi este depoimento por e-mail e tinha de compartilhar. Não vou comentar nada, você pode tirar suas próprias conclusões…
“Sou dentista há 35 anos. Sempre tive meu consultório particular, nunca trabalhei no serviço público, exceto por uma curta experiência em 1996, quando fui convidada pelo presidente de uma das cooperativas do PAS – Plano de Atendimento à Saúde, em São Paulo, para integrar a equipe de dentistas. Era uma cooperativa diferenciada, administrada por uma pessoa idealista que tinha vontade de fazer o serviço público funcionar, pelo menos aquele administrado por ela. Um detalhe importante: essa pessoa durou bem pouco no comando dessa cooperativa. Curioso, não?
Nessa cooperativa existiam dentistas que eram concursados pela prefeitura como especialistas e dentistas contratados temporariamente para o projeto PAS, de várias especialidades. Eram muitos dentistas. Existiam três turnos, com uma média de cinco dentistas por turno.
Por eu ser uma pessoa de confiança do presidente, um dia ele me pediu que eu fizesse um levantamento do material em estoque existente naquele ambulatório e o que vi foi algo surpreendente que eu nunca vou esquecer. Existia uma quantidade de dentes de acrílico para dentaduras numa quantidade imensa, nenhuma dental possui um estoque daquele tamanho. E tudo parado, pois na época não existia um protético contratado para prensar as dentaduras. Ou seja, provavelmente o estoque era fruto de uma compra superfaturada que, como é de praxe no serviço público, ficaria parado até apodrecer. Havia uma quantidade imensa de fórceps (material usado para extração dentária) e umas cinco máquinas para solda de banda ortodôntica. Agora eu pergunto: alguém já viu um adolescente colocar aparelho ortodôntico pelo serviço público?? Aquelas máquinas caríssimas paradas…
Mas o que me mais me marcou foi uma menina que apareceu sem a coroa dos dentes 13, 12, 11, 21, 22, 23; tinha apenas as raízes e muita vergonha de sorrir. Ela nem olhava pra mim, de tanta vergonha. Como dentista contratada (não era funcionária publica concursada), pedi a um colega endodontista, também contratado, para fazer os canais dos dentes; eu me responsabilizaria pelas próteses. Embora esse não fosse o procedimento-padrão daquele ambulatório, fiquei muito sensibilizada com aquela menina de apenas 13 anos. Resolvi assumir o risco e tentei devolver um pouco de dignidade para aquela pessoa tão jovem e já com sua autoestima tão comprometida.
O colega fez os canais. Selecionei alguns dentes que estavam parados no estoque do ambulatório, aqueles que deveriam ser usados para fazer dentaduras que nunca existiram, e escolhi os tamanhos adequados para o espaço. Fiz o molde com os fios de aço inox para ortodontia, que também estavam parados no estoque há anos (existiam fios de várias espessuras!!) e posicionei os dentes de forma adequada de canino a canino, Modéstia à parte, ficou esteticamente muito bom. A menina ficou muuuito feliz. Embora fosse uma solução provisória para qualquer pessoa que tem acesso a um dentista, para aquela menina foi uma solução definitiva que devolveu a ela o direito de sorrir. Fui embora pra casa super contente, com a sensação de missão cumprida.
Na semana seguinte, quando voltei para trabalhar no laboratório, minha cadeira não funcionava. O tubo de ar havia sido cortado e fiquei sem poder trabalhar.
Existia certa diferença entre os dentistas contratados e os dentistas concursados, que achavam que nós (os dentistas contratados) queríamos roubar o lugar deles. Confesso que eu sentia certa negligência dos profissionais do serviço público. Lembro que os contratados trabalhavam feito loucos, mas não estou aqui para acusar ninguém de nada. Quis apenas contar o que presenciei no serviço público da prefeitura de São Paulo. Material? Tinha! Dentista? Tinha! Por que o serviço não funcionava? Deixo a resposta para vocês. Quem cortou o tubo de ar da minha cadeira? E por quê? Também deixo essa resposta para vocês…
M. B. D., cirurgiã-dentista formada pela UNESP Araraquara”
Da nojo esta podridão e a única coisa que posso fazer é fazer parte de um grupo grande como os dentistas do bem para conseguir ter algum significado em ser cidadão.
Estou há apenas dois anos no serviço público. Ainda acredito que posso fazer a diferença! Vejo colegas sussegados e colegas que querem trabalhar. As vezes não fazemos mais a diferença, por não conseguir exergar como ser mais eficiente!! Aproveito a Turma do Bem para tentar melhorar a região em que trabalho, as vezes dá certo, as vezes não. Até o IHC já usei para tentar priorizar crianças na escola!!!!!!! Eu vou continuar tentando, eu preciso tentar!!!!!
Funcionalismo público, do mais baixo ao mais alto escalão, é o câncer desse país! Há raras exceções.
Eu tenho 26 anos de serviço público, 2 vínculos e estatutária nos 2. Posso dizer que vi coisas que até DEUS duvida. Cheguei a conclusão que existe um movimento, para quem quer alguma coisa no serviço publico, CANSAR.
Hoje não estou cansada. Estou exausta!!!!! Tenho vergonha pelo que já vi. Moro em um município rico, na Odontologia temos TODAS as especialidades na rede publica. Só ortodontistas temos 36. Dá para imaginar o que poderia fazer se a coisa fosse séria? Na contagem regressiva para aposentadoria. Cansei de sonhar que meu trabalho poderia fazer difença…..
Cara Drª Aracélie. Tenha a certeza de que Deus viu o que você fez durante esses anos de trabalho, e nunca pense que o que vc fez ou faz pelos outros é ou foi em vão… a sua “diferença” foi em seus pacientes e não no seu trabalho.
É difícil! Muita gente se beneficia por ter um cargo público. É concursado, tem a garantia, já que é difícil ser mandado embora… Agora, o que mais dói nesse depoimento é ver que, em alguns casos, ao contrario do que a gente pensa, existe SIM condição de trabalho. Tem material, tem dentista recebendo salário, tem paciente a espera e PORQUÊ NÃO FUNCIONA???? Existe um problema sério que está na mentalidade do nosso povo. Um povo que se contenta com pouco. Um profissional público acostumado a fazer de qualquer jeito (ou não fazer.), porque o povo aceita o pouco que o governo oferece. As pessoas pagam impostos (e muitos!). Nós pagamos uma infra-estrutura inexistente. Temos que exigir. É preciso educação. O povo precisa de ferramentas para poder exigir seus direitos. É triste. Mas temos que seguir em frente e fazer a nossa parte… Acredito que estamos fazendo.
Cara colega, o que acontece é que para carater, responsabilidade, ética e tantos outras caracteristicas morais não existe concurso. Pode estar certa de que o que diferencia o comportamento do profissional não é o contrato ou o concurso é CARÁTER
Infelizmente também já perdi meu trabalho por querer realizar uma odontologia correta, devolver saúde e sorrisos. Por isso hoje sou voluntária da TdB e não meço esforços para ver o projeto crescer e oferecer saúde de verdade.
Infelizmente essa é a realidade do serviço público brasileiro!!!
Muita gente sonha com um trabalho no serviço público, exatamente pq essa imagem que nos é passada constantemente atrai pessoas que não querem trabalhar e sim viver só de mamata!