Pondé e os narcísicos no Facebook
16/04/12 14:42Nem vou tentar escrever um texto para hoje. O filósofo Luiz Felipe Pondé disse tuuudo na coluna dele na Ilustrada desta segunda!
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LUIZ FELIPE PONDÉ
Narcisismo no “Face”
Não estou a menosprezar os medos humanos;
muito pelo contrário, o medo é o meu irmão gêmeo
Cuidado! Quem tem muitos amigos no “Face” pode ter uma personalidade narcísica. Personalidade narcísica não é alguém que se ama muito, é alguém muito carente.
Faço parte do que o jornal britânico “The Guardian” chama de “social media sceptics” (céticos em relação às mídias sociais) em um artigo dedicado a pesquisas sobre o lado “sombrio” do Facebook (22/3/2012).
Ser um “social media sceptic” significa não crer nas maravilhas das mídias sociais. Elas não mudam o mundo. Aliás, nem acredito na “história”, sou daqueles que suspeitam que a humanidade anda em círculos, somando avanços técnicos que respondem aos pavores míticos atávicos: morte, sofrimento, solidão, insegurança, fome, sexo. Fazemos o que podemos diante da opacidade do mundo e do tempo.
As mídias sociais potencializam o que no humano é repetitivo, banal e angustiante: nossa solidão e falta de afeto. Boas qualidades são raras e normalmente são tão tímidas quanto a exposição pública.
E, como dizia o poeta russo Joseph Brodsky (1940-96), falsos sentimentos são comuns nos seres humanos, e quando se tem um número grande deles juntos, a possibilidade de falsos sentimentos aflorarem cresce exponencialmente.
Em 1979, o historiador americano Christopher Lasch (1932-94) publicava seu best-seller acadêmico “A Cultura do Narcisismo”, um livro essencial para pensarmos o comportamento no final de século 20. Ali, o autor identificava o traço narcísico de nossa era: carência, adolescência tardia, incapacidade de assumir a paternidade ou maternidade, pavor do envelhecimento, enfim, uma alma ridiculamente infantil num corpo de adulto.
Não estou aqui a menosprezar os medos humanos. Pelo contrário, o medo é meu irmão gêmeo. Estou a dizer que a cultura do narcisismo se fez hegemônica gerando personalidades que buscam o tempo todo ser amadas, reconhecidas, e que, portanto, são incapazes de ver o “outro”, apenas exigindo do mundo um amor incondicional.
Segundo a pesquisa da Universidade de Western Illinois (EUA), discutida pelo periódico britânico, “um senso de merecimento de respeito, desejo de manipulação e de tirar vantagens dos outros” marca esses bebês grandes do mundo contemporâneo, que assumem que seus vômitos são significativos o bastante para serem postados no “Face”.
A pesquisa envolveu 294 estudantes da universidade em questão, entre 18 e 65 anos, e seus hábitos no “Face”. Além do senso de merecimento e desejo de manipulação mencionados acima, são traços “tóxicos” (como diz o artigo) da personalidade narcísica com muitos amigos no “Face” a obsessão com a autoimagem, amizades superficiais, respostas especialmente agressivas a supostas críticas feitas a ela, vidas guiadas por concepções altamente subjetivas de mundo, vaidade doentia, senso de superioridade moral e tendências exibicionistas grandiosas.
Pessoas com tais traços são mais dadas a buscar reconhecimento social do que a reconhecer os outros.
Segundo o periódico britânico, a assistente social Carol Craig, chefe do Centro para Confiança e Bem-estar (meu Deus, que nome horroroso…), disse que os jovens britânicos estão cada vez mais narcisistas e reconhece que há uma tendência da educação infantil hoje em dia, importada dos EUA para o Reino Unido (no Brasil, estamos na mesma…), a educar as crianças cada vez mais para a autoestima.
Cada vez mais plugados e cada vez mais solitários. Na sociedade contemporânea, a solidão é como uma epidemia fora de controle.
O Facebook é a plataforma ideal para autopromoção delirante e inflação do ego via aceitação de um número gigantesco de “amigos” irreais. O dr. Viv Vignoles, catedrático da Universidade de Sussex, no Reino Unido, afirma que, nos EUA, o narcisismo já era marca da juventude desde os anos 80, muito antes do “Face”.
Portanto, a “culpa” não é dele. Ele é apenas uma ferramenta do narcisismo generalizado. Suspeito muito mais dos educadores que resolveram que a autoestima é a principal “matéria” da escola.
A educação não deve ser feita para aumentar nossa autoestima, mas para nos ajudar a enfrentar nossa atormentada humanidade.
Toda ferramenta é só uma ferramenta, podendo assim ser usada de varias formas.
…desde metade do S.XX ao que vai deste século, as pessõas parece terem entrado num desespero por eliminar sensações naturais proprias do ser humano como a angustia, o medo, a solidão, a inveja, os ciúmes…todos parece terem entrado na mesma “onda” formando um só bloque, uma só personalidade…uma só cabeça…repetem frases que estão de moda como…”a vida é um absurdo”…querem ser “diferentes” e se igualan nas tatuagens exageradas, no uso das drogas, de ansiolíticos, de antidepresivos…de ervas milagrosas, de búzios, de sicólogos, de filósofos…
…vai para o campo, rapaz…acorda cedo…pisa com o pé nu a boa erva molhada de orvalho …(essa erva que você nunca viu)…agora aspira profundo o ar…(falei ar!)…observa o homem do campo plantando, colhendo…da também uma olhada na cozinha…estão fazendo o pão!…faz essa experiencia, vai!…e quem sabe você chegue a conclusão de que a vida pode não ser um absurdo…que o absurdo é a forma como você vive a vida…
Comentando alguns comentários… “não, eu não acho que os narcisos irão se reconhecer, muito provavelmente nem saberão o que isso significa, tampouco conseguirão se importar com um texto cheio de conteúdo e reflexivo, pois estão acostumados apenas no seu mundo de amizades, desejos, conquistas irreais”.
O texto faz a gente refletir muito sobre a questão das relações humanas na atualidade! Porque se esconder em números, em indiretas e em piadinhas é muito mais fácil que sentar e investir um tempo tentando entender o outro… é medíocre postar lições de moral quando não se conhece a si próprio, tampouco o outro com o qual se convive! Texto excelente!!!!
Para ler e refletir muito!!!!!!!!
Excelente! Será que os narcisos teriam a capacidade de se achar neste texto? Difíciiiilll!!!!
Muito LEGAL!!!! Demais!
Excelente!
Tudo tem uma medida , ter no face uma ferramenta para encontrarmos pessoas que o tempo afastou e que gostaríamos de ter noticias é um ótimo caminho… mas nada como estar perto fisicamente dos amigos e familiares para conversar , rir e também e principalmente se apoiar ……..
muito bom o texto. Muita gente vai se encontrar lendo ele!
Que atire a promeira pedra, irmãos gêmeos.
Eita narcisismo..
O pior de tudo acho que é a superioridade a tudo e a todos.
Se achando “centro do universo” destruindo a essência de si mesmo.
QUE PREGUIÇA!!!!
Ótimo texto!!!!
Texto genial… a dúvida,, é se realmente os narcisistas irão se reconhecer ao ler a coluna.
vejo seres humanos isolados, que medem os amigos pela quantidade, sem se importar as principais bases que fundamentam a amizade como o respeito, a solidariedade, o amor. Se vc está com um problema com um amigo, fica bem mais fácil você postar indiretas e depois finalizar com um “fikadika”, mas me pergunto, esses problemas acabam sendo resolvidos? não é com os erros que se amandurecem as relações? prefiro ainda, considerar amigos aqueles que estão sempre de forma incondicional ao meu lado, debatando e amadurecendo nossas relações…
Muito interessante!!!!
Eis o ser humano!
Devastador. Para onde caminha a humanidade?!
Isso me remete àquele post anterior, sobre as pessoas que se mantém conectadas pelo celular quando saem com amigos.
Acho que o maior medo dessa “geração narcisista” é de não ser aceito pela sociedade, aquela real que é feita de pessoas, carne e osso. Acho que quem busca a aceitação virtual, deveria trabalhar suas habilidades sociais, relacionar-se mais com as pessoas! O que nos move são as nossas relações!
Talvez seja também o poder de ver sua imagem e proezas estampadas nas telinhas dos monitores… Se fosse impresso o Facebook não traria tais “reflexos”.
Genial…. Um texto que distribui muitas carapuças…
Que sirvam!
Muito BOMMMMMMMMMMMMMMM
bom?! muito bom!!!
Como diria Caetano, “Narciso acha feio o que não é espelho”… O texto é muito bom, mas, se lerem, os narcísicos provavelmente não se reconhecerão e dirão que narcisistas são os outros…
O texto é bom, embora não concorde tanto com a concepção de História colocada por Pondé. Historicamente, o homem sempre foi e se concebeu como um “animal político” (Aristóteles), no sentido de “animal social”. A Idade Contemporânea, desde a Revolução Francesa, época em que a divisão social do trabalho ficou mais desenvolvida, é a época da nossa máxima individualização e solidão. Agora, é completamente real que o Face é a celebração da quantidade de amizades, e não de sua qualidade e mostra mesmo que, quanto mais se afirma essa falsa sociabilidade, mais se afirma o próprio isolamento.
O narcisismo se caracteriza por uma visão de si inflada, um sentimento de superioridade
e uma excessiva admiração por si próprio. Dependendo do grau, o narcisismo pode
atingir níveis patológicos. Pacientes narcísicos demonstram dificuldades de empatia, de
manter relacionamentos sociais e tendências de explorar os outros, buscando privilégios
pessoais (Ashe, Maltby e McCutcheon, 2005).
muito bom o texto, faz a gente parar para pensar em muitas coisas
Mais um tapa do Pondé. Obrigado pelo post!
“Boas qualidades são raras e normalmente são tão tímidas”.
Como esperado do Pondé, um realismo meio pessimista que nos lembra que as máscaras para nos fazer acreditar que “tudo vai bem” são muitas e variadas. Muitas vezes, o Facebook se soma a essas máscaras.